INDIGNAÇÃO DE VIDRO - WILLIAM CONTRAPONTO




 Indignação de Vidro

William Contraponto


Gritam por causas que não conhecem, 

mas fazem delas vitrine e vitral. 

Posam em guerras que não pertencem, 

temendo o toque do sangue real. 


Seu pranto é brando, mas bem ensaiado, 

com luz precisa para comover. 

O palco é quente, o drama é dourado, 

e a dor é roupa para se vender. 


Apontam erros de quem não ameaça, 

pois o perigo é sempre distante. 

Sua coragem é só fumaça, 

que some quando a luta é constante. 


Falam de mundo com frases prontas, 

mas nada sabem de chão ferido. 

Se a fome chama, viram as contas, 

pois é feio o rosto do desvalido. 


E assim desfilam na indignação, 

com passos firmes para a plateia. 

Não buscam causa, só aprovação, 

num gesto oco que nada semeia.