NÃO É DOENÇA, É CONSEQUÊNCIA - William Contraponto

 



NÃO É DOENÇA, É CONSEQUÊNCIA


A notícia de que o médico de Jair (Golpista) Bolsonaro aponta depressão, ansiedade e uma crise persistente de soluços não deveria causar espanto nem piedade automática. Tampouco deveria ser usada como escudo moral. Não se trata aqui de zombar da condição humana. Sofrimento psíquico é real, sério e digno de cuidado. Mas é preciso dizer com clareza que há uma diferença fundamental entre adoecer apesar da própria trajetória e adoecer por causa dela.

Bolsonaro não é vítima de um mundo que o excedeu coisa nenhuma.  É produto acabado do discurso que escolheu cultivar. A ansiedade não surge do nada. A depressão também não. Elas são, muitas vezes, o retorno psíquico de uma vida sustentada no conflito permanente, no ódio como método e na agressão como linguagem política.

Lembremos: o Bozo construiu sua trajetória política naturalizando a morte, convertendo a violência retórica em método e fazendo do conflito permanente uma identidade. Governou estimulando o colapso, o enfrentamento contínuo e a ideia de que a convivência democrática é sinal de fraqueza. Esse modo de existir politicamente não produz estabilidade. Produz tensão constante. O corpo cobra. A mente responde. Não há transcendência nisso. Há causalidade.

Quando se governa atacando instituições, jornalistas, professores, cientistas, minorias e a própria democracia, não se constrói estabilidade. Constrói-se tensão. Quando se vive politicamente à base da negação da realidade, da mentira reiterada e da paranoia conspiratória, o preço não é apenas social. É também subjetivo.

Os soluços incessantes funcionam quase como uma metáfora involuntária. O corpo interrompe a fala de quem passou anos interrompendo o pacto civilizatório. A ansiedade é o sintoma lógico de quem sempre apostou no caos e agora teme a responsabilização. A depressão não nasce do acaso, mas do esgotamento de um personagem que só se sustenta enquanto grita e puxa coro de "imbroxavel".

Isso não absolve, não redime, não apaga nada. Sofrer não transforma ninguém em inocente. A história não reescreve crimes com laudos médicos. O reconhecimento de um adoecimento não pode servir para humanizar politicamente quem desumanizou tudo que não  fosse espelho de forma tão sistemática ao longo da vida pública 

Há quem confunda crítica com crueldade. Não é o caso! Crueldade foi rir da falta de ar alheia, minimizar mortos e ironizar a dor coletiva. Agora, quando o corpo cobra a fatura, tenta-se inverter os papéis. O agressor aparece como vítima. O autor do colapso surge como alguém a ser protegido do próprio legado. E quem se sensibiliza? Lógico, o seu gado de ressentidos, boçais, néscios, neofachos, entre outros nichos da estirpe do líder da manada.

Se faz necessário deixar transparente a conclusão de que a política não adoece por acaso. Ela adoece quando é feita contra a vida, contra a convivência e contra a democracia. O que se vê não é uma tragédia pessoal isolada. É o sintoma final de um projeto que sempre escolheu a barbárie como método.

Não é perseguição.

Não é injustiça.

Não é complô.

É consequência!


William Contraponto