Sentidos Dormentes
William Contraponto
Há olhos que fingem não ver a dor
Do rosto ferido que passa na rua,
Preferem calar o incômodo pavor
E manter sua paz tão vazia e nua.
Há ouvidos que negam o grito profundo
Do ventre faminto clamando por pão,
É fácil dormir num conforto sem mundo
Blindar-se do outro, trancar compaixão.
Sentidos dormentes, refúgio mesquinho,
Que ignora a fome, a violência e a queda,
Quem não sente o alheio caminha sozinho,
E ajuda a manter o silêncio na pedra.
Despertar para a realidade é preciso
E deixar essa velha indiferença,
Ninguém espera um paraíso,
Mas que ao menos haja justiça.

