Sistema Clandestino - William Contraponto






Sistema Clandestino

William Contraponto


Nas dobras do mundo que nega o espelho,

entre os escombros de leis sem abrigo,

nasce um murmúrio oculto, sem selo:

é voz dos que sangram, mas seguem contigo.


O sistema opera com ferro e ausência,

impondo muros, selando os porquês.

Mas onde há veto, germina resistência;

a noite abriga o que o dia não vê.


Sistema clandestino, vivo e negado,

não por crime, mas exclusão.

São corpos-tinta, sonho rasgado,

escrevendo o mundo na contramão.


Lá onde o grito é gasto e negado,

levanta-se um pacto, um novo chão:

a arte marginal, o gesto calado,

a dança em becos, o pão de irmão.


Sistema clandestino, feito de ausentes,

de pele esquecida, de fé sem altar.

É rede invisível, são mãos insurgentes,

costurando brechas pra respirar.


Eles dizem “caos”… mas é refúgio.

Eles dizem “crime”… mas é viver.

Na negação, brota outro fluxo:

um mundo inteiro a renascer.


Sistema clandestino, sem permissão,

mas com verdade na contraluz.

É lágrima, riso, fogo e canção 

é o que resiste enquanto a dor conduz.