CANTO AO ÍDOLO DE BARRO
William Contraponto
Ergueu-se em trono de espuma
O brado raso e veemente,
Tinha o verbo sem nenhuma
Raiz no que é realmente.
Com o punho em gesto estreito
E a Bíblia fora do contexto,
Marchava ao som do despeito
Como se o ódio fosse texto.
Vestia a pátria em carcaça
De mito e arma na mão,
Mas o brilho era de taça
Que camufla a erosão.
Não há cura no messias
Que não sofre contradição,
Seu saber são porcarias
Transcritas sem reflexão.
E os que o seguem, em delírio,
Choram glórias de ocasião,
Como bois em velho giro
Presos na mesma ilusão.
Mas a história, paciente,
Já lhe escreve o epitáfio:
“O que é grande, se aparente,
Rui sem sustento ou prefácio.”
