NA DIFERENÇA, O ENCONTRO
William Contraponto
Não há um só rosto na face do mundo,
cada cor, cada fala é raiz da canção.
No outro que vive, eu me aprofundo
sendo ponte, cais, contradição.
O diverso é chama que aprende a crescer,
é a dança entre vozes sem dono ou padrão.
É o caos fecundo que sabe tecer
a trama sagrada da evolução.
Na dança do múltiplo, tudo respira,
da prece do monge ao batuque do chão.
É no que escapa, na voz que delira,
que se ergue o eco da civilização.
Nenhum dogma abarca o todo que somos,
nem pátria, nem credo, nem verbo imposto.
Somos o abraço das margens que fomos,
um coro de diferenças num só rosto.
O diverso é força que ensina a viver,
não há verdadeiro sem contradição.
É linha que rompe o medo de ser,
abrindo a carne da tradição.
Respeitar é ver-se no espelho partido,
é ouvir o silêncio de quem não tem vez.
O contraponto não é ruído perdido,
é semente de um novo talvez.
O diverso é mundo por dentro do ser,
é verbo que pulsa além da razão.
No encontro de abismos, vem florescer
a civilidade em construção.
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Ouça:
