Reflexo no Infinito
William Contraponto
No fulgor da substância imutável,
onde o tempo dissolve seu vulto,
não há voz que dite a verdade,
nem mão que trace o indulto.
O sopro do caos se ordena por si,
no fluxo que molda o império do tudo.
Nenhum rosto se ergue no véu sideral,
nenhum nome repousa no escudo.
Se esperas decreto, não há quem o faça,
se buscas clemência, é tua a sentença.
A folha se dobra ao vento que passa,
não por prece, mas pela presença.
No todo que vibra sem régua ou intento,
somos centelhas de um mesmo fulgor.
Nem servos, nem filhos, nem vítimas pálidas,
apenas partes de um ser sem senhor.
Eis o divino, desprovido de trono,
nem ira, nem glória, nem cláusula justa.
Somente a dança dos mundos sem dono,
somente a ordem que nunca se ajusta.
