O Espelho Estilhaçado do Bolsonarismo - William Contraponto

 



O Espelho Estilhaçado do Bolsonarismo

William Contraponto

O bolsonarismo não pode ser compreendido apenas como uma figura política, mas como um fenômeno simbólico: a expressão de uma crise profunda na identidade nacional. Ele funciona como um espelho estilhaçado que reflete e multiplica medos coletivos, transformando a insegurança em agressividade e a ignorância em força política.

Nesse contexto, a linguagem perde sua função de comunicação e entendimento. O discurso racional é substituído por slogans e gritos. A palavra, que poderia construir pontes, passa a servir como instrumento de dominação e exclusão. É a razão sendo substituída por ruído.

A adesão ao bolsonarismo revela um desejo de retorno às sombras - não as sombras do desconhecido criativo, mas as da caverna platônica, onde a ilusão é preferida à luz. A negação da ciência, da empatia e da diversidade se junta à veneração de mitos e símbolos manipulados, formando um ressentimento organizado e travestido de redenção.

A natureza, constantemente presente na minha obra poética, aparece aqui como vítima. O bolsonarismo a ignora ou destrói, incapaz de reconhecer sua linguagem silenciosa. O poder que se afirma pela força bruta não dialoga com a delicadeza do mundo natural.

No centro desse processo está a manipulação da verdade. Fatos são distorcidos, versões são fabricadas, e a mentira se torna ferramenta política. O bolsonarismo, mais do que uma ideologia, é um sintoma: uma reação ao colapso de certezas e ao medo do futuro.

No entanto, há resistência. Mesmo em meio ao ruído e à escuridão, há vozes que insistem na lucidez. Cabe a cada um decidir se seguirá prisioneiro dos reflexos fragmentados ou se buscará reconstruir um horizonte comum a partir da escuta, da verdade e da imaginação crítica.