A Travessia do Mesmo - William Contraponto

 



A Travessia do Mesmo

William Contraponto 


No passo que busca o longe,

a alma inventa horizontes,

mas carrega, feito bronze,

os sinais de velhas fontes.


Dobrei ruas sem bandeira,

confundi sul com verão,

cada escolha, passageira,

se disfarça de razão.


Fui atrás do nunca dito,

fiz da dúvida um talismã,

mas o chão, sempre restrito,

me levava pra amanhã.


O futuro que se inventa

tem o gosto do que foi,

e a resposta que se ausenta

só retorna se se dói.


Não é sina nem castigo,

não há fado a decidir —

é que o mundo vem contigo

mesmo quando quer fugir.


No fim do que parecia

ser um novo desvendar,

vi que tudo se torcia

para o ponto de recomeçar.


E entendi, sem mais demora:

não importa o que se faz,

quem se move, toda hora,

vai voltar ao mesmo cais.


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