Autossuficiência
William Contraponto
Quem se conhece habita o próprio chão,
não se distrai com laços passageiros.
Aceita o peso bruto da solidão,
recusa os braços frágeis dos cordeiros.
Não faz do outro um fim ou direção,
nem cede ao medo em gestos traiçoeiros.
Ama por escolha e não por condição,
não finge paz em vínculos inteiros.
Carrega a angústia como quem respira,
sabendo: ser é fardo e liberdade.
Não busca um Deus que a dor justifique ou gira,
prefere o abismo à falsa claridade.
Age sem desculpa ou destino imposto,
na autenticidade crava o passo.
Não veste a má-fé nem aceita o encosto
de um sentido herdado, frágil e escasso.
Amar não é negar o absurdo cru,
mas partilhar a queda com firmeza.
E se o vazio lateja sem um “tu”,
ainda assim se vive — com inteireza.
