O Silêncio Que Te Espia - William Contraponto

 



O Silêncio Que Te Espia

William Contraponto 


Te escondes no ruído e na agonia,

temendo o vulto da própria verdade.

Chamas de vida a farsa que te guia,

mas vives sob o fio da tempestade.


Teus gestos são ensaio e encenação,

reflexos de um deserto mal coberto.

Teu riso é disfarce da contramão,

pois nunca estiveste assim tão perto.


O quarto te devolve o que calaste:

um murmúrio sem rosto, frio, inteiro.

No fundo do silêncio que evitaste,

te espreita um ser sem nome e verdadeiro.


Não foges só do mundo lá de fora,

mas da presença crua que te habita.

O barulho é o refúgio de quem chora

sem ter coragem de escutar a dita.


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Escombros de Um Dia Qualquer - William Contraponto



Escombros de Um Dia Qualquer

William Contraponto 


O mundo caiu como era previsto,

E poucos notaram o chão se romper.

Chamaram de novo o que já era visto,

Ruínas que insistem em não se perder.


Poliram grilhões com brilho e discurso,

E chamam de livre o que nos retém.

Nos deram um trilho, chamaram de curso,

Com passos marcados pra não ir além.


Vendem a vida com brilho barato,

Sonhos vencidos sob um refletor.

A liberdade virou aparato,

Mentem com força, chamando de amor.


Andamos por ruas que ninguém vê,

Com olhos no chão, em mudo cansaço.

A pressa devora o pouco de fé,

E o ser se dilui no próprio fracasso.


Vendem a vida com brilho barato,

Sonhos vencidos sob um refletor.

A liberdade virou aparato,

Mentem com força, chamando de amor.


Mas quem se desvia do velho rebanho

Traz nos olhos a chama da incerteza.

Mesmo ferido, perdido, estranho,

Habita o centro da real fortaleza.


Vendem a vida com brilho barato,

Sonhos vencidos sob um refletor.

A liberdade virou aparato,

Mentem com força, chamando de amor.

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Para Ouvir:


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Pequenas Grandes Perguntas №04 - Lilo

 PEQUENAS GRANDES PERGUNTAS №04




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#williamcontraponto #pequenasgrandesperguntas #lilo 


A Ordem de Um Só - William Contraponto



A Ordem de Um Só
William Contraponto

Existe, em segredo, uma ordem esquecida,
sem templo, sem clero, sem voz na multidão.
Fundada no caos de uma alma partida,
erguida no peito de quem diz não.

Não aceita mestres, não jura verdades,
não dobra o joelho pra céu ou doutrina.
Desdenha os selos, os pactos, os laços...
relíquias de uma fé que já não ensina.

Carrega nas veias antigas vontades,
e escreve no chão sua própria ruína.
Não veste insígnias, não ergue brasões,
não marcha em fileiras, nem segue orações.

O rito é pensar sem pedir permissão.
A cada ferida, transforma o conselho
em ética viva, forjada na mão.
Chama-se Ordem Reta do Caos.
E sobrevive no silêncio dos que não se ajoelham.




Lilo - William Contraponto

 



Lilo

William Contraponto


Chamaram-me Lilo, por falta de voz,

que dissesse "William" sem tropeçar.

Entre risos soltos e passos atroz,

era um nome pequeno a me nomear.


Com os cabelos dourados ao vento,

desafiava o mundo sobre o guidão.

Na bicicleta, um breve momento

parecia calar toda interrogação.


Voava nos dias, menino a sonhar,

como quem já sentia o que viria:

que o mundo é espelho difícil de olhar,

e a infância como véu feito de poesia.


Na rua e na calçada, ganhava o chão,

mas o céu insistia em me chamar.

Entre tombos, silêncios e negação,

comecei, sem saber, a questionar.


Hoje sou verso, sou contradição,

poeta que pensa sem se impor.

Mas em mim ainda vive a invenção

de quem foi "Lilo" antes da dor.





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Pequenas Grandes Perguntas №03 - Lilo

 PEQUENAS GRANDES PERGUNTAS №03



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A Travessia do Mesmo – William Contraponto

 



A Travessia do Mesmo

William Contraponto


No passo que busca o longe,

a alma inventa horizontes,

mas carrega, feito bronze,

os sinais de velhas fontes.


Dobrei ruas sem bandeira,

confundi sul com verão,

cada escolha, passageira,

se disfarça de razão.


Fui atrás do nunca dito,

fiz da ausência convicção,

mas o chão, sempre restrito,

me levava pra amanhã.


O futuro que se inventa

tem o gosto do que foi,

e a resposta que se ausenta

só retorna se se dói.


Não é sina nem castigo,

não há fado a decidir –

é que o mundo vem contigo

mesmo quando quer fugir.


No fim do que parecia

ser um novo desvendar,

vi que tudo se torcia

para o ponto de recomeçar.


E entendi, sem mais demora:

não importa o que se faz,

quem se move, toda hora,

vai voltar ao mesmo cais.


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Pequenas Grandes Perguntas №02- Lilo

 PEQUENAS GRANDES PERGUNTAS №2



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Para Onde Vão os Dias - William Contraponto



 Para Onde Vão os Dias

William Contraponto 


Se o tempo passa,

Para onde vão os dias?

Será que se escondem

Na curva das melodias?


Nos cantos esquecidos

Da casa que já fomos,

Deslizam calendários

Em silêncios sem nomes.


As horas se desmancham

Na poeira das lembranças,

E o que ficou por dizer

Ecoa em esperanças mansas.


Se o tempo passa,

Para onde vão os dias?

Será que se escondem

Na curva das melodias?


Rostos que o vento esquece,

Promessas que se dispersam,

Tudo se curva ao instante

Como folhas que conversam.


O tempo não tem morada,

Nem bússola nem cais.

É um sopro que nos atravessa,

E nunca volta jamais.


Se o tempo passa,

Para onde vão os dias?

Talvez se dissolvam

Na curva das melodias.


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Apresentação de Lilo - William Contraponto

 Apresentação de Lilo

William Contraponto


Há dentro de mim a criança que nunca se calou. Seu nome, quase um sussurro de infância, é Lilo. O apelido que as vozes tortas e apressadas das outras crianças deram ao “William” por ainda não  pronunciarem seu nome direito.

Lilo não é apenas um personagem ou uma lembrança. Ele é o princípio inquieto, a centelha primeira que ainda hoje ilumina meus passos no caminho do pensar e do sentir. Enquanto o mundo impõe certezas e verdades prontas, ele permanece com suas perguntas. Tão simples, musicais e inquietas.

É por isso que apresento Lilo a vocês, leitores, como o guardião das “Pequenas Grandes Perguntas”. Um convite para que, juntos, nunca deixemos de perguntar, de duvidar, de cantar a infância do pensamento.





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Rito de Lama - A Saga dos Legendários - William Contraponto

 



Rito de Lama - A Saga dos Legendários 

William Contraponto 


Subiram calados a encosta,

sem celulares, sem nome.

Só homens. Só músculos. Só ordem.

Sem margem pra fome.


Pintaram-se com a terra

como quem volta ao começo,

mas era só mais um teatro

pra esconder o avesso.


Um gritou com voz de trovão,

o outro caiu de joelhos.

O suor nos rostos partidos

fingia lavar espelhos.


Passaram lama nos corpos

como quem sela um pacto.

Mas o toque era censura

revestida de ato.


Não era afeto o que unia,

era um medo compartilhado —

de que dentro daquele abraço

houvesse algo errado.


Diziam-se livres, guerreiros,

senhores da própria vontade.

Mas seguiam o velho roteiro 

de uma falsa identidade.


Não podiam se olhar nos olhos

sem desviar o sentido.

Pois sabiam — mesmo sem nome —

o que ali era omitido.


Chamam de rito, de cura,

de resgate da missão.

Mas é só o velho machismo

com nova embalagem e fardão.


E a montanha, que tudo via,

guardou em seu barro espesso

os segredos de um bando de homens

com medo do próprio começo.

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Ouça Aqui:

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Boneca do Vazio - William Contraponto



 Boneca do Vazio

William Contraponto


Há um corpo que não respira,

com olhos fixos no não-ser.

No colo, a ausência gira

vestida de um quase-viver.


Não chora, mas comove a alma,

não cresce, mas sabe esperar.

É ternura sem ter calma,

é consolo a simular.


Boneca feita de lamento,

de desejo e de negação.

O tempo ali é fingimento,

repetição sem coração.


É culto ao que nunca sente,

fetiche do eterno imaculado.

Negar o real, tão pungente,

por um afeto embalado.


No berço, repousa o espelho

de um mundo que teme sofrer.

Prefere o falso conselho

a ver o amor perecer.


Tão real quanto uma mentira dita,

com olhos que não sabem ver.

É o retrato de uma era aflita

que troca o fato por parecer.


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O Dragão que Não Está - William Contraponto

 



O Dragão que Não Está

William Contraponto


Há um dragão na garagem,

diz o homem de olhos fundos,

e jura que a ausência de pegadas

é prova do seu segredo mais profundo.


Ele cospe fogo invisível,

que não queima, mas convence.

Sua ausência é tão sensível

quanto a fé que o silencia e o defende.


Trago farinha, luz e espelho.

Nada pesa, nada brilha.

A cada prova, um conselho:

não limites com a tua trilha

o que habita noutra ilha.


Mas eu, que caminho entre dúvidas,

não temo o que não se vê.

Temo o nome que se dá às sombras

para fugir de quem se é.


O dragão talvez seja ausência,

talvez linguagem, ou véu.

Talvez o medo que inventa crença

para não se encarar no céu.


E na garagem vazia do mundo,

onde ecoam promessas ao léu,

prefiro o chão seco e fecundo

do que o voo cego ao céu.

Direito à Realidade - William Contraponto

 



Direito à Realidade

William Contraponto


Na tela que ilumina a madrugada,   

mil vozes se atropelam sem razão;   

a mentira é servida, bem montada,   

com gosto de verdade e precisão.   


A frase vem bonita e convincente,   

com imagem e palavras de impactar;  

mas pouco diz, e passa por “semente”  

pra quem não para nunca pra pensar. 


Se muitos repetirem, vira lei,      

e quem pergunta já se torna inimigo; 

não importa o que é certo ou o que sei,  

importa é se o que digo soa antigo.  


Correntes vão dizendo o que é “real”,   

sem prova, sem estudo, sem porquê;   

e o povo crê na farsa habitual,     

porque é mais fácil crer do que saber.  


Mas há quem queira ver o que é de fato,  

romper o engano, olhar de frente a dor;  

sentir o mundo cru, sem aparato,    

e não viver no abrigo do sabor.     


O direito à verdade é resistência,    

é levantar sem medo o próprio olhar;   

num tempo em que enganar virou tendência, 

pensar já é começo de lutar.      


Quem sou eu para escrever o que escrevo?


 Quem sou eu para escrever o que escrevo?


Escrevo há vinte anos. Para jornais, para sites, para quem quiser ler.

Há quinze anos, vivenciei a prática: atuei em associações culturais, comunitárias, presidi grêmio estudantil, estive em movimentos sociais — inclusive na luta LGBT — e comuniquei, com voz firme, em rádio comunitária.

Trago na pele e na palavra a marca das experiências políticas e ideológicas que atravessam minha existência desde sempre.


Tenho 38 anos de vida. E esta é, talvez, minha maior formação.


Sou inquieto. Busco, pesquiso, observo, anoto.

Gosto do que é difícil de compreender — não por vaidade, mas por necessidade. Porque há beleza no que exige mais da mente e do sentir.


Não temo a sombra: ela é natural.

Não fujo do vazio ou do silêncio: convivo com eles. E sei que são territórios que só os corajosos atravessam sem desviar os olhos do espelho.


O que escrevo nasce disso tudo.

Da coragem de pensar.

Do risco de sentir.

Da ousadia de encarar o que muitos evitam.

Além do Consenso - William Contraponto




Além do Consenso

William Contraponto


Não visto a forma que me deram,

nem sigo o mapa carimbado.

Há vozes que jamais me ferem,

por não falar o que é pensado.


O mundo aplaude a repetência,

os gestos feitos pra agradar.

Mas carrego a desobediência

de quem nasceu pra questionar.


Não cabe em mim o pronto-esquema,

a fórmula, o tom programado.

Eu busco o centro do dilema

que o senso médio deixa ao lado.


Enquanto erguem seus conceitos

com tijolos da tradição,

eu desmancho os falsos feitos

pra erguer silêncio e contramão.


Ser não é ceder ao costume

de repetir sem entender.

É arder com a própria lume

mesmo sem ter quem o vê.


Que fiquem com suas certezas,

seus dogmas feitos de verniz.

Prefiro as minhas incertezas

ao conforto de um país feliz.



RISCO E CORAGEM - WILLIAM CONTRAPONTO

 



Risco e Coragem 

William Contraponto 


Há dias que a dúvida não cabe no peito,

e o riso é só um disfarce no olhar.

Tem gente que aprende a viver pela metade,

pra não ter que chorar ou se entregar.


O amor assusta mais que a solidão,

e a dor ensina mais que o professor.

Tem medo quem sente demais com a alma,

e quem nunca sente, já morreu de terror.


Quem aguenta sentir sem se esconder?

Quem encara a vida sem anestesia?

Quem beija de olhos abertos o sofrer,

e dança abraçado com a agonia?


Nos ruas, se aprende a fingir valentia,

nos espelhos, se treina o não ser.

Mas no fundo, a gente é só poesia,

com medo das rimas que podem doer.


Sentimento é faca de dois gumes:

te salva ou te sangra sem avisar.

Mas viver sem corte é só costume

de quem prefere sobreviver a amar.


Quem aguenta sentir sem se esconder?

Quem encara a vida sem anestesia?

Quem beija de olhos abertos o sofrer,

e dança abraçado com a agonia?


Brindemos ao erro, ao desejo, ao fracasso,

aos dias em que a alma perdeu o compasso.

Porque só quem caiu, sem fazer oração,

aprendeu que o chão também é direção.


Quem aguenta sentir sem pedir socorro?

Quem vive sem medo de ser cicatriz?

Quem ama sabendo que o amor é um risco,

mas prefere o incêndio a ser infeliz?


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EVANGELISTÃO - William Contraponto



 EVANGELISTÃO

 William Contraponto


No altar reluz o tom da tentação

É Deus ou é mercado quem governa?

Milagre à venda em cada multidão

A fé vestida em seda, tão moderna.


Profeta inflado em nome do Senhor

Fatura mais que banco em cada culto

Promete paz, amor e dissabor

No fundo, é só o medo em alto vulto.


Na tela, chora o show do redentor

Mas o que salva é o código de barras

Se há cruz, é só cenário sem ardor

Com luz de LED e frases já tão raras.


O dízimo é a senha do perdão

Sem ele, irmão, tua bênção não alcança

Já não se prega a dúvida ou razão

Só um céu VIP para quem tem poupança.


E se alguém ousa erguer a contrapalavra

É o diabo, grita o palco envenenado

Pois toda crítica já nasce escrava

Da seita que não pensa, só mercado.



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Para Ouvir:




Entre a Terra e o Ninguém - William Contraponto



Entre a Terra e o Ninguém

William Contraponto


Pisou a estrada sem ter mapa

só o vento como guia

um pensamento feito capa

pra esconder a própria via


Levava o tempo nos bolsos

e a ausência no olhar

ninguém notava os soluços

no seu jeito de calar


Entre a terra e o ninguém

canta baixo o que não vem

não tem porto, nem talvez

mas caminha outra vez


Na curva o mundo se estreita

feito um sonho mal dormido

toda palavra é suspeita

todo abraço, dividido


Entre a terra e o ninguém

canta baixo o que não vem

não tem porto, nem talvez

mas caminha outra vez


E se um dia perguntar

pra onde o tempo fugiu

vai sorrir sem confirmar

que a esperança também ruiu


Entre a terra e o ninguém

planta dúvidas, colhe além

não tem rumo, nem adeus

mas respira como os seus





Arco-Íris de Decisões (Um Poema em Sete Cores) - William Contraponto

 



Arco-Íris de Decisões (Um Poema em Sete Cores)

William Contraponto 



Vermelho – O Fogo da Rebelião


Vermelho é a cor que queima o coração,

é a força que rasga o manto da mentira.

Na rua escura, a mão que levanta a paixão

é a chama que consome e nunca retira.


Vermelho grita, e o grito não se cala,

é a voz do oprimido, é o povo a clamar.

É a luta constante, é o sangue que entala,

o impulso da terra que quer se libertar.


Laranja – A Falácia da Esperança


Laranja é a cor que promete o futuro,

mas não cumpre, não traz o que se sonha.

É o brilho que ofusca, o gosto amargo e seguro,

uma ilusão que deixa a alma tristonha.


O laranja se espalha onde o sonho é vazio,

onde o trabalhador espera pelo pão.

É a cor do consolo que acaba no frio,

do doce que não vem, mas engana a mão.


Amarelo – A Ilusão da Comodidade


Amarelo é o sol que cega e não aquece,

é o brilho do ouro que nunca se toca.

É o sorriso que enfeita, mas não aparece

onde a dor fura e a liberdade se estoca.


No amarelo vive quem não questiona,

que segue o caminho sem olhar para o lado.

É a paz de quem finge e se entona,

mas o preço é o silêncio que tem ficado.


Verde – A Luta do Renascimento 


Verde é a cor da terra que grita,

mas cresce mesmo quando apanha.

É o campo que brota e que nunca se limita,

é a força do homem que não se apanha.


No verde é onde a esperança se faz,

onde o operário sabe que o fim não chegou.

A cor que resiste em meio à paz

que é vendida, mas nunca deixou.


Azul – A Desilusão do Céu Sem Resposta


Azul é o céu que se estende e não toca,

é a cor do vento que não vê o chão.

É o grito de quem em silêncio sufoca,

no coração vazio, sem direção.


O azul não diz, só observa a dor,

vê as ruínas sem se abalar.

É a calmaria que exibe o temor,

e a frieza que só sabe pesar.


Anil – O Silêncio da Morte


Anil é a cor que nunca se escuta,

é o eco vazio que assombra o olhar.

É a ausência que desce e nos captura,

é o vazio que toma, sem despertar.


Quem vê o anil não vê a vida em flor,

só o abismo e o silêncio da estrada.

É o ponto final do poema e do clamor,

onde a alma cai e a dor fica calada.


Violeta – A Última Luz da Liberdade


Violeta é a cor da morte que não cessa,

da liberdade que nasce com o fim.

É o toque final, onde o ser se esqueça,

mas se dissolve, renascendo enfim.


O violeta queima onde o corpo se apaga,

mas não há tristeza, só a libertação.

É a cor que encerra e a vida alaga,

é a vitória do espírito sem prisão.


O Arco-Íris - Reflexo Final 


O Arco-Íris, então, é mais que cores.

Ele é o espelho da luta, da dor, do ser.

Cada cor nos chama a ver e a ter

a coragem de lutar para poder renascer.





Caminhos Celestes - William Contraponto

 



Caminhos Celestes

William Contraponto 

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Galáxia de Esquinas


Em espiral, o céu se abre em luz 

E estrelas caem, tímidas, ao chão 

Na vastidão, o eco do que há de cruz 

No espaço, ressoando um velho sermão 


A Via Láctea gira em silêncio só 

Tece segredos de um tempo sem fim 

Cada estrela, um grito, um eco, um dó 

Reflexo do que fomos, e somos enfim 


Caminhantes, somos pó, somos ar 

Entre os astros, seguimos sem saber 

O que resta daquilo que foi no lar 

Que o cosmos nos sussurra, sem querer 


E no fim, o que deixamos, ao partir 

Será o brilho de uma estrela a brilhar 

No coração da galáxia a insistir

Que nada se apaga, apenas a esperar 


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Mercúrio

Apressado, sem destino, sem cessar,

Mercúrio se dissolve no vácuo, sem mais,

Em sua rotação, busca escapar do olhar,

Mas no fim, é só a solidão que nos faz.


Vênus

Em tua beleza, o engano se esconde,

Vênus, onde a verdade se dissolve no ar,

Teus ventos nos dizem que nada responde,

E o amor é um jogo de quem sabe esperar.


Terra

Somos poeira sobre o que já se foi,

A Terra nos cobra, mas nada responde,

Em nossa jornada, o vazio nos constrói,

E a existência se apaga, onde o futuro se esconde.


Marte

Em tua luta, Marte busca sentido,

Mas a guerra é a sombra do homem sem fé,

Tu, solitário, és um sonho perdido,

Onde o fim é a única verdade que se vê.


Júpiter

Rei do caos, mas nada em ti é paz,

Júpiter, teu poder é a máscara do ser,

Em tuas tempestades, o vazio se faz,

E o eterno questiona o que é viver.


Saturno

Teus anéis são as correntes que nos prendem,

Saturno, o tempo que devora sem cessar,

Na tua órbita, todos os sonhos se rendem,

E o fim é apenas o que vem sem pesar.


Urano

Em tua revolução, Urano se perde,

Tentando fugir do absurdo que nos guia,

Na angústia da mudança, tudo se cede,

E o ser se dilui na eterna agonia.


Netuno

Nos teus mares, Netuno, buscamos o não,

Teus sonhos são as prisões que nos cercam,

A mente se afunda, perdida em ilusão,

E no abismo, o verdadeiro nunca se encontra.


Plutão

Distante, mas presente no que há de morrer,

Plutão, o fim que nos leva sem querer,

Em teu silêncio, o nada a nos consumir,

E na morte, o sentido se desfaz ao partir.



O Sol

Fonte de vida, em teu brilho, há a clareza,

Com tua luz, a terra desperta ao amor,

O Sol, guardião da eterna fortaleza,

Em cada raio, renova o nosso valor.


Teu calor nos guia e nos faz crescer,

Em teus raios, vemos a verdade brilhar,

O Sol, farol de esperanças a florescer,

Nos mostra o caminho, nos ensina a lutar.


A cada amanhecer, em teu abraço, há paz,

O Sol é a chama que ilumina o ser,

Com sua luz, tudo se faz capaz,

E na sua força, o mundo a resplandecer.


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A Perda Sagrada - William Contraponto



A Perda Sagrada

William Contraponto


À margem do Nilo, onde o rio silencia,

o amor, enfim, encontra seu fim.

Nos olhos de Antínoo, Adriano via

não só o belo, mas o divino a brilhar assim.


Não era o poder da coroa que cativava,

mas a entrega de um amor profundo,

onde palavras se tornam o que se guarda,

em gestos, e nos silêncios do mundo.


Antínoo, mais que carne, era chama acesa,

um amor que, no peito, Adriano cultivava.

Era beleza que, em sua natureza,

não se apagava, mas na dor se renovava.


A perda, enfim, se fez sagrada,

como o fogo que nunca se apaga no altar.

E o imperador, com alma enlutada,

fez da dor sua reverência ao amar.


Ergueu-lhe templos, moldou sua imagem,

mas a pedra, sem vida, não compreende o toque.

Nenhuma forma retém, em sua viagem,

o amor que persiste, mais do que qualquer rochedo ou bloqueio.


Antínoo, tu não és só o ausente,

mas o amor que transcende a morte e o mar.

Em cada memória, és eternamente presente,

a perda sagrada que nunca deixará de brilhar.

SINAL DOS SATURNINOS - WILLIAM CONTRAPONTO

 



Sinal dos Saturninos

William Contraponto


Os olhares saturninos acoam

Transmitindo uma sinalização,

Feita de sombra e de idioma

Que escapa à compreensão.


São faróis de uma ausência contida,

São espelhos do não-lugar,

Onde a verdade adormecida

Insiste em não se calar.


A verdade não brada no vento,

Nem desce em clarão triunfal,

Ela dança num tempo lento,

Em silêncio essencial.


Não gritam, não se exaltam,

Mas vibram no contrassom 

Enquanto os olhos se faltam,

A alma escuta o tom.


E no passo que se atrasa,

Algo novo se faz ver:

Não é o saber que embasa,

Mas o ato de aprender.


A verdade não brada no vento,

Nem desce em clarão triunfal,

Ela dança num tempo lento,

Em silêncio essencial.

TRAMAS DO LIMITE - WILLIAM CONTRAPONTO

 



Tramas do Limite

William Contraponto


Há tramas que nos cercam, sim —

umas protegem, outras ferem.

Como a cerca do jardim,

que guarda... ou impede que esperem.


Vivemos contando as grades,

no molde exato que se herda.

Chamamos lar às metades,

e medo ao passo que enverga.


Será abrigo ou cela fria?

Depende do que se sente.

É prisão ou poesia?

Depende do olhar da gente.


Fios ocultos nos conduzem,

costuras dentro da mente.

Uns com amor nos infundem,

outros controlam silente.


Na alma, regras costuradas,

laços do tempo e do chão.

Algumas são bem tramadas,

outras viram restrição.


Será abrigo ou cela fria?

Depende do que se sente.

É prisão ou poesia?

Depende do olhar da gente.




NA FRONTEIRA DE NÓS DOIS - WILLIAM CONTRAPONTO




Na Fronteira de Nós Dois

William Contraponto


Na esquina estreita do mundo,

onde o olhar pesa mais que a pedra,

nós dois existimos à revelia,

de um céu que nunca nos celebra.


Gritam nomes, constroem muros,

com dogmas, cruzes, fardos e leis,

mas vivemos, mesmo sem permissão,

num agora que ninguém desfez.


Disseram que amar era errado,

que Deus não cabe no nosso abraço...

Mas se o inferno é o outro,

não sou eu quem lança o laço.


Vivemos, apesar do medo,

no absurdo que a fé construiu,

somos escolha em meio ao silêncio,

somos desejo que nunca fugiu.

E mesmo que tudo negue o que somos,

seguimos, porque amar é ser.

Na fronteira de nós dois,

há um mundo que não quiseram ver.


Carregamos angústias herdadas,

verdades partidas em becos calados,

mas cada toque teu me ancora

no sentido que não vem dos fados.


Saltamos sem chão sob os dias,

com a fé de quem teme e insiste,

e encontramos abrigo nos gestos

que provam que o amor persiste.


Disseram que a alma tem forma,

e que a nossa é ausência e engano...

Mas não há essência que nos prenda

quando o afeto é soberano.


Vivemos, apesar do medo,

no absurdo que a fé construiu,

somos escolha em meio ao silêncio,

somos desejo que nunca fugiu.

E mesmo que tudo negue o que somos,

seguimos, porque amar é ser.

Na fronteira de nós dois,

há um mundo que não quiseram ver.


Não há condenação mais cruel

que viver sob o olhar alheio.

Mas o amor é nossa resposta

ao vazio feito de receio.


Vivemos, apesar do medo,

no absurdo que a fé construiu,

somos coragem em carne e beijo,

somos liberdade que resistiu.

E mesmo que tudo negue o que somos,

seguimos, porque amar é ser.

Na fronteira de nós dois,

há um mundo inteiro por renascer.








VERSÃO OFICIAL- WILLIAM CONTRAPONTO

 



Versão Oficial

William Contraponto


Escreve o rei com tinta de guerra,  

na pele alheia, sua versão.  

Quem tombou antes, já não encerra  

nenhum direito à narração.  


Ergue-se o herói sobre os escombros,  

de quem lutava por abrigo.  

Os nomes somem nesses escombros,  

só resta o canto do inimigo.  


A glória é escrita a ferro e fogo,  

com pena feita de poder.  

Apaga-se o que não foi jogo,  

o que sangrou sem merecer.  


Mas sob a página encadernada,  

há vozes presas no papel.  

A história é sempre maquiada  

pra parecer toque do céu.