O Dragão que Não Está - William Contraponto

 



O Dragão que Não Está

William Contraponto


Há um dragão na garagem,

diz o homem de olhos fundos,

e jura que a ausência de pegadas

é prova do seu segredo mais profundo.


Ele cospe fogo invisível,

que não queima, mas convence.

Sua ausência é tão sensível

quanto a fé que o silencia e o defende.


Trago farinha, luz e espelho.

Nada pesa, nada brilha.

A cada prova, um conselho:

não limites com a tua trilha

o que habita noutra ilha.


Mas eu, que caminho entre dúvidas,

não temo o que não se vê.

Temo o nome que se dá às sombras

para fugir de quem se é.


O dragão talvez seja ausência,

talvez linguagem, ou véu.

Talvez o medo que inventa crença

para não se encarar no céu.


E na garagem vazia do mundo,

onde ecoam promessas ao léu,

prefiro o chão seco e fecundo

do que o voo cego ao céu.