Risco e Coragem
William Contraponto
Há dias que a dúvida não cabe no peito,
e o riso é só um disfarce no olhar.
Tem gente que aprende a viver pela metade,
pra não ter que chorar ou se entregar.
O amor assusta mais que a solidão,
e a dor ensina mais que o professor.
Tem medo quem sente demais com a alma,
e quem nunca sente, já morreu de terror.
Quem aguenta sentir sem se esconder?
Quem encara a vida sem anestesia?
Quem beija de olhos abertos o sofrer,
e dança abraçado com a agonia?
Nos ruas, se aprende a fingir valentia,
nos espelhos, se treina o não ser.
Mas no fundo, a gente é só poesia,
com medo das rimas que podem doer.
Sentimento é faca de dois gumes:
te salva ou te sangra sem avisar.
Mas viver sem corte é só costume
de quem prefere sobreviver a amar.
Quem aguenta sentir sem se esconder?
Quem encara a vida sem anestesia?
Quem beija de olhos abertos o sofrer,
e dança abraçado com a agonia?
Brindemos ao erro, ao desejo, ao fracasso,
aos dias em que a alma perdeu o compasso.
Porque só quem caiu, sem fazer oração,
aprendeu que o chão também é direção.
Quem aguenta sentir sem pedir socorro?
Quem vive sem medo de ser cicatriz?
Quem ama sabendo que o amor é um risco,
mas prefere o incêndio a ser infeliz?
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