Considerações Reflexivas: Aprendi a Respeitar e Entender Simbolismos sem o Olhar Religioso ou Místico - William Contraponto

 


Aprendi a Respeitar e Entender Simbolismos sem o Olhar Religioso ou Místico


Durante muito tempo fui ensinado a associar símbolos a crenças, ritos e dogmas. Toda cruz era uma fé. Todo círculo, uma divindade. Todo gesto, uma invocação. Mas aos poucos comecei a perceber que há mais camadas nas formas que repetimos e nos signos que carregamos do que apenas o viés religioso ou místico. Aprendi com o tempo, e talvez com certa dor, a respeitar e entender os simbolismos como linguagem humana. Não como ponte para o sobrenatural, mas como reflexo do que somos e do que buscamos compreender.

O símbolo não é necessariamente uma janela para outro mundo. Pode ser apenas um espelho. Um modo de organizar o caos da experiência. Um desenho que resume uma ideia complexa, um medo ancestral, um desejo escondido. A serpente, por exemplo, já foi o mal, a sabedoria e a renovação. Nenhuma dessas definições é definitiva, todas são interpretações culturais. O símbolo, em sua essência, não exige fé. Exige leitura.

Percebi que símbolos são como palavras condensadas, signos que falam diretamente ao imaginário, não à crença. Eles pertencem à arte, à filosofia, à política, à ciência e até ao cotidiano. Um punho cerrado é resistência. Um arco-íris, diversidade. Um labirinto, introspecção. E tudo isso pode ser compreendido sem recorrer ao sagrado. Basta enxergar o humano por trás da forma.

Respeitar os simbolismos, para mim, passou a ser um ato de escuta. Um esforço de tradução. Entender que eles não são meros enfeites, tampouco relicários mágicos. São manifestações simbólicas de trajetórias coletivas e individuais. São tentativas, muitas vezes desesperadas, de dar sentido ao indizível. E esse esforço é digno de respeito, mesmo que não acreditemos no invisível.

Assim me libertei da obrigação de crer para compreender. E aprendi a honrar os símbolos como quem lê um poema, não buscando verdades absolutas, mas sentidos possíveis. Porque, no fundo, simbolizar é um modo de sobreviver ao real, e isso por si só já é profundamente humano.







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A NAVALHA DO TEMPO - WILLIAM CONTRAPONTO




A Navalha do Tempo

William Contraponto


O tempo fere, mas não grita,

seu corte é seco e sem perdão.

A alma cala, mas acredita

que há consolo na erosão.


Cada segundo abre uma brecha,

por onde escapa o que não foi.

O que se guarda, o tempo recha,

o que se perde, nunca dói.


Faz do relógio um carrasco,

do calendário, um tribunal.

E segue firme, passo a passo,

com sua foice sem igual.


Na pele escreve seus sinais,

nas veias marca o que não cessa.

Faz dos inícios, ritos finais,

e da esperança, promessa.


Tudo que é vivo já termina,

mesmo ao nascer, já vai ao chão.

O tempo afia, e se inclina

sobre o silêncio da razão.



Considerações Reflexivas: Da Interpretação Mística à Investigação Racional - William Contraponto

 Considerações Reflexivas: 




Da Interpretação Mística à Investigação Racional

William Contraponto 

A espiritualidade sempre esteve ligada à conexão com a natureza e à tentativa de compreender fenômenos que, para os povos antigos, pareciam inexplicáveis sem recorrer a forças ocultas ou sobrenaturais. Hoje, porém, a ciência e certas correntes filosóficas oferecem explicações para muitos desses fenômenos, sem a necessidade de recorrer ao misticismo. Além disso, permitem que aquilo que ainda não tem explicação permaneça em aberto, sujeito a investigação e estudo, até que se alcance uma resposta plausível e fundamentada.

Desse modo, a evolução do conhecimento humano nos permite valorizar a espiritualidade como expressão cultural e histórica, sem que ela precise ocupar o lugar da ciência na explicação do mundo. Ao reconhecer a importância do questionamento, mantemos viva a curiosidade e a abertura ao novo, sem fechar as portas para investigações futuras que possam ampliar nosso entendimento da realidade.




CAMINHO SEM MILAGRE - WILLIAM CONTRAPONTO

 



Caminho Sem Milagre

William Contraponto 


Não existe um deus de verdade,

Nem voz oculta a nos vigiar,

Se há trevas nesta realidade,

Que divindade viria salvar?


Se houvesse um ser tão supremo,

Por que deixaria a dor florescer?

Nos becos do medo, seremos

Nós mesmos quem vamos viver.


Um céu prometido é miragem,

Enquanto há fome ao redor,

Quem dita a sorte e a coragem

É o passo que damos, maior.


Fizemos da dúvida um canto,

Do pranto, fizemos saber,

Se um mito consola o quebranto,

A razão nos ensina a crescer.


Pois creio no instante, no agora,

No abraço, no verbo, no chão,

Que seja real o que aflora

E não sombras presas na mão.








SENTIDOS DORMENTES - WILLIAM CONTRAPONTO




Sentidos Dormentes 

William Contraponto 


Há olhos que fingem não ver a dor 

Do rosto ferido que passa na rua, 

Preferem calar o incômodo pavor 

E manter sua paz tão vazia e nua. 


Há ouvidos que negam o grito profundo 

Do ventre faminto clamando por pão, 

É fácil dormir num conforto sem mundo 

Blindar-se do outro, trancar compaixão. 


Sentidos dormentes, refúgio mesquinho, 

Que ignora a fome, a violência e a queda, 

Quem não sente o alheio caminha sozinho, 

E ajuda a manter o silêncio na pedra. 


Despertar para a realidade é preciso 

E deixar essa velha indiferença,

Ninguém espera um paraíso, 

Mas que ao menos haja justiça. 






Sistema Clandestino - William Contraponto






Sistema Clandestino

William Contraponto


Nas dobras do mundo que nega o espelho,

entre os escombros de leis sem abrigo,

nasce um murmúrio oculto, sem selo:

é voz dos que sangram, mas seguem contigo.


O sistema opera com ferro e ausência,

impondo muros, selando os porquês.

Mas onde há veto, germina resistência;

a noite abriga o que o dia não vê.


Sistema clandestino, vivo e negado,

não por crime, mas exclusão.

São corpos-tinta, sonho rasgado,

escrevendo o mundo na contramão.


Lá onde o grito é gasto e negado,

levanta-se um pacto, um novo chão:

a arte marginal, o gesto calado,

a dança em becos, o pão de irmão.


Sistema clandestino, feito de ausentes,

de pele esquecida, de fé sem altar.

É rede invisível, são mãos insurgentes,

costurando brechas pra respirar.


Eles dizem “caos”… mas é refúgio.

Eles dizem “crime”… mas é viver.

Na negação, brota outro fluxo:

um mundo inteiro a renascer.


Sistema clandestino, sem permissão,

mas com verdade na contraluz.

É lágrima, riso, fogo e canção 

é o que resiste enquanto a dor conduz.





Tecido Inacabado - William Contraponto




Tecido Inacabado 

William Contraponto 


Buscar a melhor resposta

é insistir no questionamento,

e quando ela é posta

abre-se a margem do complemento.


Pois cada palavra dita

é nascente de outra pergunta,

e a verdade nunca é restrita,

apenas muda, jamais se junta.


Quem pensa que encerra o sentido

se esquece do tempo e do olhar,

há sempre um mistério contido

no gesto de interrogar.


Assim se faz vivo o caminho,

ao sopro da dúvida constante,

pois quem caminha sozinho

se perde no labirinto distante.


Melhor é trançar pensamento

com o fio do aprendizado,

sabendo que o entendimento

é tecido inacabado.







O Mistério que Somos - William Contraponto



O Mistério que Somos 

William Contraponto 


Há um lume cambaleante

No céu desta noite sem dono,

Há uma canção inquieta

Na sala onde a espera é abandono.


Há um sopro que se insinua

Por frestas do pensamento,

Há um tempo que continua

Sem promessa de alento.


Há um passo que se demora

No chão de sua própria ausência,

Há um eco que a hora

Transforma em consciência.


E no compasso vacilante

Do ser que escolhe o caminho,

Há um lume cambaleante

No mistério que somos sozinhos.