O ESPINHO QUE SUSTENTA O LUXO - WILLIAM CONTRAPONTO




O Espinho que Sustenta o Luxo

William Contraponto 


O lixo na cidade se acumula,

O luxo segue o mesmo caminho. 

A bandeira de poucos trêmula,

Enquanto a maioria pisa espinho. 


O grito da fome é contido,

abafado por telas brilhantes.

Um povo cansado e esquecido,

som perdido em ruas distantes.


As praças se tornam vitrines,

com passos de pressa e descaso.

Erguem-se muros e confins,

derruba-se o humano no atraso.


O poder se veste de ouro,

mas seus pés tropeçam na lama.

Promete futuro sonoro,

entrega cinza e mais trama.


Enquanto se erguem palácios,

ergue-se também a miséria.

Nos becos, os corpos cansados

carregam a dor que não cessa.


E o tempo que passa impassível

não limpa a ferida exposta.

A cidade, em ciclo terrível,

repete a mesma resposta.

A CLAREZA DA TEMPESTADE - WILLIAM CONTRAPONTO

 



A CLAREZA DA TEMPESTADE 

William Contraponto 


Sem o impulso da tempestade

O que haveria além da realidade?

Aquilo que nos traz a incerteza

Também produz maior clareza.


É no relâmpago que rasga o véu,

que o olhar descobre outro céu.

A dúvida, antes sombra e prisão,

abre passagem à revelação.


O caos, que assusta e nos desmonta,

é também o sopro que reconstrói.

Na queda, a consciência se apronta,

na perda, algo novo se constrói.


Não há calmaria sem o desvario,

nem se conhece o fogo sem frio.

Só o contraste revela sentido,

só no abismo se vê o infinito.


Assim seguimos, entre dor e alívio,

entre naufrágio e porto cativo.

Pois a tormenta é mestra severa,

mas sua lição é a mais sincera.



Status Sem Conteúdo - William Contraponto



Status Sem Conteúdo

William Contraponto


O dinheiro é tudo o que ele tem,

fala alto, mas pensa raso.

Confunde respeito com amém,

vive exibindo o próprio atraso.


Não lê, não ouve, não pergunta,

mas quer parecer importante.

A ignorância nunca o assusta,

desde que o carro seja brilhante.


Fala muito pra esconder o nada,

o vazio mora em seu discurso.

A alma trancada, alma calada,

compra amigos no cartão de uso.


Segue a vida como vitrine,

vendendo o que não é verdade.

Sua existência é palpite fino,

mas fede à superficialidade.


Foge de tudo que é profundo,

pois teme o peso de pensar.

No palco raso deste mundo,

prefere pagar do que mudar.


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INDIGNAÇÃO DE VIDRO - WILLIAM CONTRAPONTO




 Indignação de Vidro

William Contraponto


Gritam por causas que não conhecem, 

mas fazem delas vitrine e vitral. 

Posam em guerras que não pertencem, 

temendo o toque do sangue real. 


Seu pranto é brando, mas bem ensaiado, 

com luz precisa para comover. 

O palco é quente, o drama é dourado, 

e a dor é roupa para se vender. 


Apontam erros de quem não ameaça, 

pois o perigo é sempre distante. 

Sua coragem é só fumaça, 

que some quando a luta é constante. 


Falam de mundo com frases prontas, 

mas nada sabem de chão ferido. 

Se a fome chama, viram as contas, 

pois é feio o rosto do desvalido. 


E assim desfilam na indignação, 

com passos firmes para a plateia. 

Não buscam causa, só aprovação, 

num gesto oco que nada semeia.