Trilogia Existencial: O E-book de Tramas do Tempo - William Contraponto

 Para acessar o conteúdo de Tramas do Tempo, parte da trilogia Existencial, de William Contraponto, basta clicar na imagem abaixo e obter o PDF:




Obs.: Os outros PDFs dos e-books Sombras Que Pensam e Entre Promessas, Bréus e Aurora seguem disponíveis neste link  .

Logo todos estarão disponíveis diretamente aqui pelo blog. Incluindo o Com Todas as Letras.

O Enigma do Primeiro Passo - William Contraponto



O Enigma do Primeiro Passo 

William Contraponto 


O caminho desperta no primeiro passo, 

abrindo o mundo sem se anunciar. 

Do ato nasce um tênue traço, 

que à própria essência decide chamar. 


Nenhuma voz secreta indica direção; 

o ritmo surge ao se escutar. 

Entre o peso do tempo e a indecisão, 

a senda encontra modo de avançar. 


Sem verbo fixo ou guia certeiro, 

a trilha aprende a se configurar. 

Há sempre vida no início ligeiro, 

sutil convite para continuar. 


Quando o silêncio cresce por inteiro, 

um fundo sentido tenta despontar. 

No intervalo se refaz o roteiro, 

mínima música a respirar. 


E se algo fica, é o inicial traço, 

o breve lume a resistir. 

Sutil lembrança de que há espaço 

para o instante enfim surgir. 





Entre o Sóbrio e o Ébrio - William Contraponto

 



Entre o Sóbrio e o Ébrio 

William Contraponto 


Entre o sóbrio e o ébrio

haverá uma conexão;

entre certeza e mistério

haverá revelação.


O que a consciência vigia,

a dúvida põe em tensão:

somos o elo que falha

na busca por direção.


A fronteira não é ameaça,

é estado, é condição;

quem a encara de frente

aprende a nomear o não.


Entre o sóbrio e o ébrio

haverá uma conexão;

entre certeza e mistério

haverá revelação.


Nenhum mapa nos garante,

nem promessa em previsão;

o sentido não é dado,

germina na interrogação.


Entre o delírio e a lógica

segue a mesma pulsação:

a lucidez é ferida,

e viver é insurreição.


Entre o sóbrio e o ébrio

haverá uma conexão;

entre certeza e mistério

haverá compreensão.







Na Esteira das Horas - William Contraponto

 



Na Esteira das Horas

William Contraponto


Corremos sem perceber,

no giro que nunca demora;

a vida tenta nos deter,

mas seguimos na esteira das horas.


O tempo caminha sem sapatos,

não pede licença ao chão que pisa;

passa leve como quem destrói,

e pesa fundo como quem avisa.


As horas nos puxam pelo fio

que tecemos sem perceber;

às vezes guia, às vezes trilho,

às vezes só nos faz correr.


Corremos sem perceber,

no giro que nunca demora;

a vida tenta nos deter,

mas seguimos na esteira das horas.


O relógio é cúmplice e carrasco,

marca destinos e omissões;

mas cada ponte entre dois instantes

se constrói com decisões.


Há quem tente frear o passo

com calendários e ilusões;

mas o futuro não negocia,

ele empurra as estações.


Corremos sem perceber,

no giro que nunca demora;

a vida tenta nos deter,

mas seguimos na esteira das horas.


E quando o dia já se cansa

de colecionar nossas demoras,

entendemos que somos feitos

de breves e frágeis agoras.


Corremos sem perceber,

até que a verdade aflora:

não escolhemos começar,

mas escolhemos como o tempo nos devora.





C.R.: O Desamparo Tem Causas Sociais, Mas Consequências Íntimas - William Contraponto

Considerações Reflexivas:


O Desamparo Tem Causas Sociais, Mas Consequências Íntimas

William Contraponto 


O desamparo raramente nasce do coração que o sente, embora seja no coração que ele se instala. Há dores que o indivíduo carrega como se fossem exclusivamente suas, quando na verdade nascem na arquitetura invisível do mundo. Vivemos num tempo em que responsabilidades coletivas se transformam em culpas pessoais: o desempregado é visto como preguiçoso, o pobre como desorganizado, o ansioso como fraco, o exausto como alguém incapaz de administrar seus próprios recursos. Assim, problemas estruturais retornam ao sujeito como defeitos morais, enquanto o sistema lava as mãos e o indivíduo lava lágrimas. Uma sociedade que naturaliza desigualdades produz cicatrizes que não aparecem no noticiário, mas latejam no peito às três da manhã. As instituições falham para todos, porém é a pessoa isolada que sangra, porque o que nos atinge em massa nos desespera sozinhos. A solidão que tanto dói não é apenas íntima, ela é fabricada por portas fechadas, direitos negados, vidas reduzidas a números e expectativas esmagadas por um mundo que exige mais do que oferece. O sujeito desamparado não é um erro; é um resultado. Mas a consciência desse fato inaugura a resistência. Quando alguém percebe que sua angústia não é defeito pessoal e sim consequência de um cenário desequilibrado, a dor deixa de ser culpa para se transformar em compreensão e luta. Se o desamparo é social em sua origem, a superação também deve ser social. Ela se constrói no encontro, na solidariedade, no gesto que devolve humanidade ao outro. A cura do íntimo começa no coletivo, porque a dignidade de um só depende da justiça de todos.